Economia gaúcha entre a guerra e a estiagem analisada pelo economista-chefe da FIERGS

Empresários e gestores das empresas associadas e filiadas ao SINDIMETAL RS, participaram da palestra sobre a economia gaúcha, no fim da tarde desta terça-feira, dia 26 de abril.

Perspectivas para o Cenário Econômico: a economia gaúcha entre a guerra e a estiagem foi o tema ministrado pelo economista-chefe do Sistema FIERGS, André Nunes de Nunes. A promoção teve lugar na sede da entidade, com a parceria da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul. Na pauta, o cenário econômico, global e nacional após o início da guerra na Ucrânia, com foco especial nos impactos na indústria e nas expectativas para as principais variáveis econômicas, considerando o Brasil e o Rio Grande do Sul.

Ao saudar os presentes, o diretor executivo do SINDIMETAL RS, Valmir Pizzutti, enfatizou a satisfação de reunir presencialmente tantas lideranças empresariais, destacando a importância de ouvir um economista reconhecido pela sua análise ponderada sobre o contexto econômico global e regional.

André Nunes apresentou um resumo do cenário internacional, onde pontuou que o crescimento mundial deve desacelerar. “A inflação global não apresentou inflexão de queda, pelo contrário acelerou”, registra. Com a guerra na Ucrânia, a economia mundial está enfrentando o segundo choque negativo de oferta, em menos de dois anos. “Após o pico da pandemia, o pico dos estímulos e o pico de crescimento, a economia mundial se encaminha para um ciclo de ajuste das políticas macroeconômicas e deve começar a desacelerar”.

Segundo o economista, “as cadeias de suprimentos e os preços relativos ainda estão muito desorganizados por consequência da pandemia. Esse conflito amplifica muito o impacto sobre a produção e os preços”. Por exemplo, os estoques de petróleo e gás, em níveis baixos, pressionam ainda mais os preços, impactado pela forte retomada do PIB global. “O preço do petróleo já apresentava tendência de alta antes das tensões do leste europeu iniciarem, assim como a redução da oferta durante a pandemia e a queda no investimento em infraestrutura”, destaca André.

NOVO MOMENTO – Três eventos recentes podem estar indicando um novo momento da economia mundial: a guerra comercial USA x China; a pandemia; e os embargos históricos à Rússia.

Outro ponto destacado pelo economista é referente a reversão dos estímulos monetários, que deverão frear a demanda global superaquecida, a partir do segundo semestre de 2022. Já em relação ao dólar, a moeda brasileira se depreciou 29% em 2020 e 9%, em 2021, ocupando a terceira posição no ranking de moedas, que mais enfraqueceram nesses anos. “Para 2022, esperamos que a taxa de câmbio termine em R$/US$ 5,00, mas com a possibilidade de uma forte depreciação durante o percurso”, analisa André.

Outro destaque, sinalizado pelo economista, é o crescimento das exportações, que têm sido um vetor importante para a retomada da economia. “A expectativa é de continuidade do momento positivo para exportadores”. O preço do aço também esteve na pauta, pois reflete o aumento no custo de energia e minério. Desde o início de 2020 até março de 2022, o aumento médio foi de 170%, um impacto forte na economia.  A partir da metade de 2021, o custo de energia começou a pesar no preço do aço e, com o início da guerra, o minério de ferro voltou a subir. “Um arrefecimento no preço depende de vários fatores: desenrolar da guerra, custos de energia e a dinâmica da atividade econômica”, analisa André.

Diante de múltiplas pressões inflacionárias – alimentos, industriais e energia, a inflação acumulada, em 12 meses, atingiu o maior patamar em cinco anos. “O PIB do RS se recuperou em 2021, mas 2022 será de recessão na economia gaúcha”, afirma.

Segundo análise, as perspectivas de investimentos para 2022 terão como principal objetivo a melhoria do processo produtivo atual. A prioridade serão máquinas e equipamentos e diante disso a orientação é o mercado interno, sendo que o principal motivo para não investir no ano deve ser o custo dos insumos.

Na opinião do economista, o mercado de trabalho está em recuperação, mas a renda foi impactada pela inflação e segue distante do pré-pandemia. “O aumento da ocupação foi mais intenso no mercado informal, onde as condições de empregos e salários são menos favoráveis”. O fato é que a indústria gaúcha continua enfrentando a falta e o alto custo dos insumos e matérias-primas, bem como de trabalhador qualificado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS – Segundo o economista, ainda é difícil prever o desfecho da guerra na Ucrânia e esse fato pode alterar de maneira significativa os números do cenário nos próximos meses, principalmente no que se refere ao crescimento do PIB e da taxa de inflação.

Considerando esse cenário, o Brasil ficou relativamente melhor. Parte importante dos países emergentes, em especial os do Leste Europeu e Asiáticos, tem indicado que estão entrando num período em que riscos institucionais e geopolíticos ficam mais latentes.

Levando em conta todos os desafios que a economia brasileira tem pela frente, para retomar o crescimento, “a boa notícia é que os principais problemas são os mesmos: carga tributária elevada e complexa; baixa eficiência do gasto público; falta de mão de obra qualificada; elevado custo para empreender; entre outros”, registra André.

Com relação às Eleições de 2022, o assunto ainda não entrou no radar do mercado, ou seja, as expectativas quanto ao resultado ainda não se refletem na taxa de câmbio e de juros. Sendo assim, neste quesito, o ponderável é aguardar.

O presidente do SINDIMETAL RS, empresário Sergio Galera, no encerramento do evento, agradeceu ao economista, que, como em outras palestras econômicas, tem sido assertivo, pontuando a sua fala com base em dados e fatos. “Sinalizar que a indústria irá crescer é um alento diante de tantas adversidades, como a pandemia e a guerra. Realmente, o Brasil não é para amadores. Vamos seguir acompanhando o cenário e não hesitaremos em trazê-lo de volta”, conclui Galera.

Fotos: Divulgação SINDIMETAL RS

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